O
ensino em tempo integral tem impacto positivo não apenas sobre os
alunos beneficiados como também sobre suas famílias e as comunidades
onde vivem, segundo estudos apresentados durante audiência pública
promovida nesta quarta-feira (7) pela Comissão de Educação, Cultura e
Esporte (CE). Os participantes da audiência fizeram uma avaliação do
Programa Mais Educação, lançado pelo governo federal em 2007 e que busca
a ampliação do ensino em tempo integral em todo o país.
A
média brasileira de permanência diária de crianças e adolescentes nas
escolas gira em torno de 4h30. Nos países da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) essa média já atingiu 7h.
Jaqueline Moll, doutora em educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e gestora do programa até 2013, trouxe levantamentos do
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) segundo os quais as
notas de Português e Matemática dos estudantes dessas escolas
melhoraram.
Entre 2007 e
2009, por exemplo, anos iniciais do Mais Educação, o índice de
proficiência em Português nas escolas onde 100% dos alunos estudavam em
dois turnos sofreu acréscimo de 7,5. O índice subiu também no intervalo
2009-2011, tendo uma melhora de 2,8, disse Moll. O mesmo fenômeno
ocorreu na Matemática, disciplina na qual os acréscimos foram
respectivamente de 0,6 e 7,8.
Por
isso, a educadora criticou fortemente o Banco Mundial, que num estudo
teria chegado à conclusão de que o ensino em tempo integral não estaria
dando certo no Brasil. A instituição recomenda que o Mais Educação seja
trocado por aulas de reforço em Português e Matemática.
—
É preciso questionar a metodologia que eles usaram. Temo que o programa
agonize — alertou Jaqueline Moll, fazendo referência também aos atrasos
nos repasses do governo federal às instituições de ensino.
O
representante do Ministério da Educação, Leandro Costa, garantiu à
vice-presidente da Comissão, senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que a
pasta já tem um plano de regularização dos repasses e que o novo
ministro da Educação, Aloizio Mercadante, prioriza a política de
educação integral.
Costa
adiantou ainda que serão abertas novas inscrições para mais escolas
aderirem a partir do próximo ano letivo, e que todas as pesquisas no
âmbito do ministério também mostram que o ensino em tempo integral
melhora o desempenho dos estudantes.
Meta para 2024
O
representante do MEC pediu o apoio dos senadores para que os repasses
do Mais Educação passem a ser automáticos, assim como para que a pasta
não sofra com mais cortes. Sua demanda teve o apoio dos senadores Paulo
Paim (PT-RS), Lasier Martins (PDT-RS), Regina Sousa (PT-PI) e Fátima
Bezerra, que presidia a reunião.
—
A meta do PNE (Plano Nacional da Educação) é que 50% das escolas e 25%
dos estudantes na educação básica já estejam nos dois turnos em 2024 —
lembrou.
Fátima Bezerra
citou dados atuais, segundo os quais hoje só 9,8% dos estudantes nas
redes estaduais e 13,9% nas municipais vivem essa realidade.
Leandro Costa entende que esse modelo é fundamental para que o país supere suas desigualdades.
—
Os filhos de um determinado nível de classe média pra cima sempre
tiveram educação integral, por meio de atividades complementares. É isso
que deve ser massificado — defendeu.
Também
participaram da audiência Sueli Baliza, secretária de Educação de Belo
Horizonte (MG); Anderson George, da Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo; e Natacha Costa, diretora da associação Escola Aprendiz.
Todos citaram inúmeras experiências locais bem-sucedidas na área,
envolvendo esportes e lazer, atividades culturais e direitos humanos,
além de noções básicas de orçamento familiar e outras.
(FONTE: UNDIME.)