sábado, 28 de julho de 2018

Dirigentes comandam siglas há mais de 10 anos




A perpetuação dos mesmos nomes em diversas legendas no Estado fragiliza a democracia interna
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01:00 · 28.07.2018
Quem tem mais mandatos em sequência: Arnon Bezerra (PTB) é presidente de partido desde 2003; André Figueiredo (PDT), desde 2007; Eunício Oliveira (MDB), desde 2008; Alexandre Pereira (PPS), desde 2009; Ely Aguiar (DC), desde 2010; e André Ramos (PPL), desde 2011. Além destes, Antônio Reginaldo Costa Moreira preside o PMN no Estado desde 2006 ( Fotos: Arquivo DN/Agência Brasil/Reprodução )
Seja em comissões provisórias, cujas composições são resguardadas apenas por indicação das direções nacionais, ou em diretórios instituídos, formados a partir de escolhas internas dos filiados no Estado, vários partidos que, atualmente, têm representação organizada no Ceará são comandados pelos mesmos nomes por mais de dois, três ou quatro mandatos. Em alguns casos, os mesmos dirigentes perpetuam-se na presidência das agremiações por dez anos ou mais, realidade que está presente em legendas menores – consideradas até por políticos como “de aluguel” – e também nas maiores, o que fragiliza a democracia interna de siglas de diferentes espectros ideológicos, atravessadas pelas figuras dos “caciques”, que mantêm influência própria – ou de indicados – nos rumos dos partidos.
Levantamento realizado pelo Diário do Nordeste no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a partir da base de dados histórica de informações partidárias, expõe que siglas como PDT e MDB, além de outras menores como PSDC – agora apenas DC –, PPS, PCdoB, PPL e DEM têm os mesmos presidentes estaduais por, pelo menos, quatro gestões. Na base de dados do TSE, há informações sobre diretórios do MDB no Ceará desde 2008, e, nas últimas cinco gestões, incluindo a atual, o senador Eunício Oliveira aparece como presidente do partido, o que totaliza ao menos dez anos à frente da agremiação. 
A “dobradinha” no comando da sigla também se mantém: no diretório vigente de 2008 a 2010, em outro de 2010 a 2011, assim como de 2011 a 2013, de 2013 a 2015 e de 2017 a 2019, Eunício Oliveira é o presidente e Gaudêncio Lucena ocupa a vice-presidência do partido no Ceará – por conta de mudança no Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias do TSE, não há informações no site sobre o diretório vigente de 2015 a 2017, mas, neste período, a direção do partido permaneceu a mesma. Desde 2017, quando Eunício assumiu a presidência do Senado Federal, Gaudêncio passou a ser presidente em exercício do MDB no Ceará, mas, na prática, decisões do partido passam pelo aval do senador.
Pedetistas
O PDT, partido com maior representatividade de cargos eletivos no Estado atualmente, é presidido pelo deputado federal André Figueiredo, pelo menos, desde 28 de outubro de 2007, data de início da vigência do mais antigo diretório do partido registrado na base de dados do TSE. Daquele ano até 2015, o vice-presidente estadual do partido foi o deputado estadual Heitor Férrer, que deixou o PDT após o ingresso dos irmãos Ferreira Gomes na legenda, naquele ano. 
Na atual gestão, vigente de novembro de 2017 a outubro de 2019, aliás, o vice-presidente do partido no Ceará é o ex-governador Cid Gomes, que, junto com o irmão, Ciro, passou a ter influência nos rumos da agremiação não só no Estado, mas também nacionalmente, uma vez que Ciro foi para o PDT com um projeto claro, concretizado no último dia 20 de julho: tornar-se o candidato do partido à Presidência da República em 2018.
No DEM, segundo os dados disponíveis no site do TSE, o comando da agremiação é revezado entre dois nomes ao longo dos últimos nove anos. Sem diretório constituído no Estado, a comissão provisória do partido foi presidida por Chiquinho Feitosa em três gestões, de 2009 a 2013, e, daquele ano até 2016, Moroni Torgan passou a ser o presidente da sigla no Ceará. 
Ainda assim, como vice-presidente de assuntos econômicos, Chiquinho Feitosa manteve-se como figura-chave do DEM no Estado, até que, em 24 de junho de 2016, quando foi instituída a comissão provisória atual, com vigência até 25 de abril de 2019, ele voltou a ser o presidente estadual do DEM. Vice-prefeito de Fortaleza, Moroni ocupa, desde então, a vice-presidência de assuntos relativos aos diretórios municipais, após último acordo firmado com a direção nacional da agremiação.
Partido menor, no PPS a situação não é tão diferente. Entre duas comissões provisórias e quatro diretórios vigentes desde 2009, Alexandre Pereira é, há nove anos, o presidente da sigla no Ceará. O atual mandato dele, iniciado em 21 de outubro de 2017, vai até 21 de outubro de 2021. O deputado estadual Ely Aguiar, por sua vez, é o presidente estadual do Democracia Cristã (DC) desde 2010. Ele acumula sete mandatos à frente do partido, incluindo o atual, vigente de 29 de novembro de 2017 a 29 de novembro deste ano. 
Pequenos
O PPL também tem um mesmo presidente há sete anos: André Ramos. Segundo a base de dados histórica do TSE, ele ocupa o cargo, pelo menos, desde 2011, e tem mandato no diretório vigente até 31 de março de 2019. Já Arnon Bezerra, atual prefeito de Juazeiro do Norte, trocou o PSDB pelo PTB em 2003 e, desde então, é o presidente da sigla no Ceará. A atual comissão provisória do partido no Estado foi instituída ainda em 7 de março de 2009 e tem validade até 5 de outubro deste ano. Outro recordista de permanência no comando de um partido é Antônio Reginaldo Costa Moreira, presidente estadual do PMN desde 2006. O PCdoB, por sua vez, é presidido por Luís Carlos Paes, pelo menos, desde 2013, segundo registros do TSE. Antes disso, ele já era membro do diretório da sigla entre 2007 e 2013.
Situação semelhante ocorreu em outros partidos nos últimos anos, com a diferença de que houve mudanças recentes no comando dos diretórios no Estado após longos períodos sob a direção dos mesmos quadros. De acordo com a Justiça Eleitoral, o PP, atualmente Progressistas, por exemplo, foi presidido no Ceará pelo padre José Linhares entre 2007 e 2017, com exceção do período entre 13 de janeiro de 2016 e 12 de julho daquele ano, quando, por decisão da direção nacional da sigla, o PP cearense foi entregue ao deputado federal Adail Carneiro, após este ter votado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados, em consonância com a direção nacional do partido. 
Mudança
O comando da legenda, contudo, foi restabelecido ao padre José Linhares por decisão judicial até abril daquele ano, quando foi formado um novo diretório estadual, com vigência até 28 de abril de 2019. O PP, desde então, é presidido no Estado por Antônio José Albuquerque, filho do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Zezinho Albuquerque (PDT).
Já o PV, segundo registros do TSE, foi presidido por Marcelo Silva, pelo menos, desde 2005, até que, em março deste ano, ele perdeu o comando da legenda para o vereador de Fortaleza Célio Studart, que trocou o Solidariedade (SD) pelo PV para disputar, pela segunda vez, um mandato de deputado federal. No diretório vigente de março a novembro de 2018, Marcelo Silva, porém, segue como membro, após mais de uma década como presidente estadual da agremiação. 
O PSD, por sua vez, teve Almircy Pinto como presidente de uma comissão provisória e ao menos dois diretórios entre 2011 e 2015, até que, em 2016, quando o deputado federal Domingos Neto trocou o PROS pelo PSD, o comando da agremiação foi entregue ao parlamentar – na base de dados histórica do TSE, não há informações sobre o período compreendido entre 2015 e 2016. Atualmente, o partido concentra a família do deputado, uma vez que a mãe de Domingos Neto, Patrícia Aguiar, é vice-presidente estadual do PSD, e o pai, Domingos Filho, conseguiu filiar-se à agremiação neste ano por decisão judicial, mesmo sendo conselheiro em disponibilidade do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). 
Rotatividade
Antes disso, Patrícia Aguiar dirigiu o PMB, que, desde que foi criado, tem rotatividade de dirigentes superior a da atual legenda. O PRTB, por sua vez, foi presidido por Antônio Aguiar Filho em seis mandatos, entre 2009 e 2013, até que, de 2013 a 2016, José Vilemar Carneiro Filho passou a ocupar o comando da sigla. Antônio tornou-se vice-presidente e depois presidente de honra, posição que ocupa até hoje, quando o presidente estadual do partido é Pedro César da Rocha Neto. Em diretórios e comissões provisórias, José do Carmo Gondim foi outro longevo dirigente, ao presidir o PSL de 2009 a 2017. Neste ano, contudo, Heitor Freire assumiu a agremiação no Ceará.
Em outros partidos, grandes e pequenos, de acordo com a base de dados do TSE, a troca de dirigentes foi mais frequente nos últimos anos, caso de PT, PSDB, PSTU, PRP, PROS, PSB, PMB, Podemos, PSOL e PHS. Ainda assim, não são raros os nomes que ocuparam a presidência das agremiações por mais de um mandato. O ex-senador Luiz Pontes, por exemplo, comandou o PSDB de 2011 a 2017, quando Francini Guedes assumiu o posto. Apesar disso, é do senador Tasso Jereissati a voz mais forte da legenda, independentemente de quem seja, formalmente, o dirigente tucano no Ceará. 
Sem organização
O PR, antes de ser entregue à deputada federal Gorete Pereira em 2018, também foi, durante alguns anos, domínio do grupo político do ex-governador Lúcio Alcântara e do vice-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa. PTdoB, PTC, Solidariedade, Rede, PRB, Novo e PEN, atual Patriota, têm realidades semelhantes. Nestes casos, porque comissões provisórias sofrem interferências – e modificações – mais frequentes, a partir dos interesses momentâneos dos partidos em âmbito nacional. 
No total, seis dos atuais 35 partidos existentes no Brasil – PTB, Rede, PSC, PR, PCO e Novo – não têm informações sobre comissões provisórias e diretórios no Ceará registradas na base de dados histórica do TSE. Já o PCB, de acordo com dados disponíveis no site do Tribunal, teve o mesmo presidente – José Carlos Vasconcelos – entre 2005 e 2012, mas, atualmente, não tem órgão partidário no Estado com registro na Justiça Eleitoral. 
Postado por Raimundo Lima
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Fonte.Diário do Nordeste

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