De acordo com o Dr. André Ribas, médico epidemiologista e responsável pela plataforma COVID-Excess, apesar deste cenário em Fortaleza, a cidade tem uma qualidade de informação boa, se comparada à média nacional
Uma ferramenta produzida pela Faculdade São Leopoldo Mandic, localizada em Campinas, São Paulo, o COVID-Excess, mostra os excessos de mortes ocorridas no ano de 2020, e que em comparação a dados anteriores essas mortes podem ser atribuídas ao novo coronavírus. De acordo com a ferramenta, Fortaleza pode ter 38% a mais de mortes, pela Covid-19, do que o registrado oficialmente.
O COVID-Excess estuda seis capitais brasileiras, que são Manaus, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, e tem o intuito de mostrar os efeitos da pandemia, em meio ao cenário de mortalidade geral, já existente anteriormente nessas localidades. “Observamos que o número de mortes tem sido muito maior do que o sistema de vigilância epidemiológica consegue captar”, pontua Dr. André Ribas, médico epidemiologista, pesquisador e responsável pela ferramenta, sobre as motivações para a pesquisa.
De acordo com o Dr. André Ribas, uma parte significativa dos óbitos pelo novo coronavírus, em alguns estados, não é notificado para a vigilância regular de óbitos, pelos mais diversos motivos. “[Às vezes] por dificuldades do próprio profissional que está atendendo, de não conseguir [diagnosticar] ou não perceber que aquele caso é Covid, ou algumas vezes, o médico até suspeita que seja Covid, mas [ocorre] alguma falha no diagnóstico, como coleta inadequada, o material acaba dando negativo e não se confirma o caso. Então, a gente acredita que uma parte da mortalidade associada ao Covid, não consegue ser captada”, explica.
Capital cearense
Com base nos dados expostos pela plataforma digital, Fortaleza manteve-se estável até a semana 14, que diz respeito ao período de 30 de março a 5 de abril. Esse período também compreende as maiores taxas de isolamento social no Estado, chegando a 71%, no dia 22 de março, segundo dados apresentados pela In Loco, empresa de tecnologia. Nas semanas seguintes, a cidade apresentou um aumento expressivo no número total de mortes, por semana, esperado.
“Através do COVID-19 Excess estima-se que o município de Fortaleza tenha um total de mortes 38% maior que o informado pelos dados oficiais do Ministério de Saúde. Desde a semana 15, o número total de mortes na cidade tem sido maior que o esperado, na semana 19 o número de mortes foi maior que o dobro do observado na ano passado”, declara o pesquisador.
A semana 19, que corresponde ao período de 4 a 10 de maio, os dados mostram um pico no número de mortes, na cidade, chegando a somar 221,7% a mais do que o esperado para a semana, de acordo com dados comparativos com mesma época, em 2019. No mesmo período, a população vinha flexibilizando o distanciamento social, quando no dia 30 de abril, a taxa de isolamento social caiu para 45%, no Estado.
Mesmo com o pico, a capital cearense mantém-se próxima da média nacional de transparência sobre o número de óbitos pelo novo coronavírus. “Fortaleza está muito próximo da média nacional, em termos de proporção de subdiagnóstico. A gente tem, por exemplo, situações mais complicadas. Em Manaus, por exemplo, o número de mortes que aconteceram, de fato, é duas vezes e meia maior, do que o que está sendo registrada pelo Ministério da Saúde”, exemplifica. “Fortaleza está dentro da média, tem uma qualidade de informação bastante boa, comparando com a média nacional. Chegando a ser um pouco melhor do que a média nacional”, completa.
Queda no número de óbitos
O Ceará que atingiu em maio, a menor taxa de transmissão do novo coronavírus, segundo pesquisa da PUC-Rio, também teve um começo de redução de óbitos, na semana 20, de acordo com análise do COVID-Excess. A semana que corresponde ao período de 11 a 17 de maio, apesar de ainda poder sofrer atualização dos números, já demonstra queda.
“Pode ser que aumente, um pouquinho, ainda. Mas provavelmente, já vai dar uma noção de queda, porque a gente tem visto que o aumento diminuiu [o contágio], em Fortaleza”, frisou. “Aquele aumento, que estava sendo, inicialmente exponencial, já diminuiu, perdeu força, isso é possível da gente afirmar”, concluiu.
O Ceará já registra 38.395 casos confirmados da Covid-19, e soma 2.859 óbitos pela doença, de acordo com a plataforma digital da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), atualização da tarde desta sexta-feira (29). Nas últimas 24h, entraram 126 óbitos no sistema, mas nenhum aconteceu hoje.
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