A chacina do Forró do Gago, nas Cajazeiras,
onde morreram 14 pessoas, das quais oito mulheres, foi considerada a
maior do Ceará e causou repercussão nacional e internacional
( FOTO: THIAGO GADELHA )
Os números divulgados pelo Instituto Maria da Penha no II Boletim
Trimestral de Conjuntura da Violência contra a Mulher no Ceará (CVCM)
assustam e alertam. O percentual de homicídios de mulheres no Estado
cresceu, de modo geral, 91%, quando comparados os primeiros trimestres
(meses de janeiro a março) de 2017 e 2018. No primeiro ano, 122 pessoas
do sexo feminino morreram. Já em 2018, o número quase dobrou: 229. Em
Fortaleza, as adolescentes e jovens, de 15 a 24 anos, são as que mais
sofrem com os assassinatos. Conforme o boletim, houve um aumento de 340%
de mortes desta faixa etária, se comparados 2017 e 2018, em igual
período já destacado.
Na Capital, a situação como um todo é ainda mais grave. O aumento de
mortes femininas é de 179,5% quando comparados os primeiros trimestres
de 2017 e 2018. De 39 assassinatos a mulheres no ano passado, o número
subiu para 109.
De abril a junho, o número de adolescentes e jovens mortas também
cresceu significativamente em Fortaleza, 180%, para ser mais preciso.
Além da Capital, o Estado também registra altos índices na mesma faixa
etária. Se comparados os meses de abril de 2017 e 2018, o aumento foi de
366,7%.
Para a superintendente geral do Instituto Maria da Penha (IMP),
Conceição de Maria Mendes, o crescimento percentual está intimamente
relacionado com o aumento do tráfico de drogas e com as facções
criminosas, que provocam eventos como as chacinas. Em janeiro deste ano,
14 pessoas morreram na Chacina das Cajazeiras. Destas, oito eram
mulheres. "Existe o aumento da criminalidade de modo geral e as
minorias, em termos de representatividade social, são as que mais sofrem
com a violência. Notamos que existe uma grande violência de gênero
dentro do crime organizado, porque essas mulheres são mortas de forma
cruel, Os crimes são filmados e compartilhados nas redes sociais",
revela Conceição.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará
(SSPDS) argumenta que as mortes citadas no boletim englobam todos os
tipos de assassinato, não apenas por violência doméstica, área em que o
Instituto Maria da Penha atua.
Preocupação
A SSPDS deixou claro, ainda, que nos primeiros trimestres de 2017 e
2018, o número de homicídios baseados na Lei Maria da Penha foram seis.
Contudo, a superintendente do IMP rebate. "Isso nos importa do mesmo
jeito. Não é porque não seja (morta)pelo parceiro que nós não vamos nos
importar. As mulheres estão morrendo, chacinadas. O aumento está sendo
mostrado por dados estatísticos e nós estamos preocupados
independentemente do contexto", argumenta.
Para Daniele Negreiros, técnica do comitê cearense pela prevenção de
homicídios na adolescência do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), uma série de violências antecedem o assassinato contra a
mulher - violência doméstica, sexual, psicológica, entre outras.
Sobre o papel das mulheres nas facções criminosas, Daniele opina que,
mesmo em posição de liderança, elas sofrem violência. "O que percebemos é
que estamos dentro de um machismo estrutural, dentro de uma sociedade
patriarcal. A mulher vai estar submetida à violência marcante estando em
posição de liderança ou não, porque isso faz parte de um contexto da
sociedade", revela.
Daniela afirma, ainda, que quanto mais inserida nas minorias a mulher
estiver, mais vulnerável ela estará. "Se ela é mulher, adolescente e
negra, ela está ainda mais vulnerável", afirma a técnica.
Propostas
No Boletim, o IMP listou uma série de propostas ao Governo do Estado do
Ceará com o intuito de diminuir o número que assola a vida de tantas
mulheres. Para a superintendente do IMP, faz-se urgente intensificar
programas de enfrentamento à expansão do tráfico de drogas combinados
com políticas públicas para mulheres.
Outra medida proposta no documento é garantir o acesso das politicas
públicas às redes de acolhimento às mulheres. (Colaborou Ana Cajado)
Fonte: Diário do Nordeste
Postado por Raimundo Lima
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