Pesquisa foi feita com mais de 14 mil
professores brasileiros; docentes usam apenas 67% do tempo da aula; o
resto é "desperdiçado" com atividades administrativas e no controle da
"bagunça".
Os professores brasileiros de escolas de
ensino fundamental gastam, em média, 25 horas por semana só com as
aulas. O número é superior à média de aproximadamente 30 países, como a
Finlândia, Coreia, Estados Unidos, México e Cingapura.
Lá, os professores gastam, em média, 19
horas por semana ensinando em sala de aula, ou seja, um porcentual 24%
menor. O posição brasileira é inferior apenas à do Chile, onde os
professores gastam quase 27 horas em aulas.
O docente brasileiro, contudo, usa até
22% mais de tempo que a média dos demais países em outras atividades da
profissão, como correção de "tarefas de casa", aconselhamento e
orientação de alunos. Todos os dados são da mais recente Pesquisa
Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) divulgada nesta
quarta-feira (25) na França.
Junto com o Brasil, não foram apenas
países ricos e integrantes da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) - coordenadora da pesquisa - que
participaram do estudo. Outras nações emergentes e também países menos
desenvolvidos fizeram parte da pesquisa. Polônia, Bulgária, Croácia,
Malásia e Romênia fazem parte do conjunto de nações integrantes da
edição 2013 da Talis.
Os dados foram obtidos junto a mais de
14 mil professores brasileiros e cerca de 1 mil diretores de 1070
escolas públicas e privadas de todos os estados do País. Os docentes e
dirigentes responderam aos questionários da pesquisa, de forma sigilosa,
entre os meses de setembro a novembro de 2012. Cada questionário tinha
cerca de 40 perguntas.
Em âmbito nacional, o estudo foi
coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Em 2007, o Brasil
também participou da primeira rodada da pesquisa, a Talis 2008, que foi
publicada no ano seguinte.
Objetivo - A pesquisa tem como principal
objetivo analisar as condições de trabalho que as escolas oferecem para
os professores e o ambiente de aprendizagem nas salas de aula.
De acordo com o Inep, "a comparação e
análise de dados internacionais permite que os países participantes
identifiquem desafios e aprendam a partir de políticas públicas adotadas
fora de suas fronteiras".
Diferente do Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (PISA), que prioriza a avaliação dos alunos, do seu
contexto e da escola, no Talis, o foco está mais centrado nos docentes.
"O programa Talis é um programa de pesquisas que visa preencher lacunas
de informação importantes para a comparação internacional dos sistemas
de ensino", afirma estudo da Universidade Federal do Paraná liderado
pela pesquisadora Rose Meri Trojan.
"Desperdício" - A pesquisa também quis
saber do professor quanto tempo de aula é voltado, efetivamente, para a
aprendizagem. E o número é pouco animador para o Brasil. Mesmo com uma
carga de 25 horas de aulas por semana, mais de 30% do tempo desses
encontros regulares é "desperdiçado" em tarefas de manutenção da ordem
dentro da sala e em questões burocráticas, como o preenchimento de
chamadas e outras atividades administrativas.
Só o tempo gasto para por "ordem na
bagunça" dos estudantes representa 20% do tempo total da aula. Com
serviços administrativos, são gastos 12%. De aula mesmo, ou seja,
atividades de aprendizagem, o professor dispõe apenas de 67% do tempo. É
a pior situação entre todos os países avaliados. Na média dos países
pesquisados, quase 80% do tempo é voltado, exclusivamente, para a
aprendizagem.
"Precisamos otimizar mais o tempo em
sala de aula. O Brasil ainda tem como foco o ensino, mas é preciso se
voltar para a aprendizagem. Não podemos desperdiçar tanto tempo com
outras questões", afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo ele, um dos principais fatores
de dispersão do aluno é a própria defasagem que ele tem em termos de
conhecimento por uma série de fatores, inclusive os socioeconômicos. "Os
alunos que chegam no fundamental veem com baixa proficiência ou possuem
uma diferença muito grande em relação aos demais estudantes. Isso é um
dos fatores que faz com que ele não fique atento às aulas e o professor
precise gastar mais tempo organizando a dispersão", fala Alavarse.
Deslocamento - Além de usar mais horas
por semana ensinando, parte dos professores brasileiros ainda sofre com o
desgaste em descolamentos. Isso porque, muitos deles trabalham em mais
de um estabelecimento.
"Ainda temos que enfrentar o desafio da
reorganização do corpo de professores nas escolas públicas. O ideal era
que ele estivesse vinculado a apenas uma escola. No entanto, é comum
docentes, especialmente dos anos finais do ensino fundamental, ensinarem
em mais de um estabelecimento, já que certas matérias que eles lecionam
têm uma carga horária e número de turmas limitado", afirma Daniel Cara,
coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
No Brasil, cerca de 40% dos mais de 2
milhões de professores da educação básica dão aulas em cinco ou mais
turmas. E aproximadamente 20% deles ensinam em pelo menos dois
estabelecimentos. Já em São Paulo, 26% dos professores dão aulas em duas
escolas. Os dados são do Censo Escolar 2013 divulgado no início deste
ano pelo MEC.
Perfil - Além dos dados sobre condições
de trabalho e ambiente de aprendizagem, a pesquisa da OCDE também traçou
o perfil do docente brasileiro. Confira um gráfico com o perfil do
docente brasileiro: http://bit.ly/1ryt6mA
(Fonte: CNTE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário