Um novo vírus que causa febre alta e, em alguns casos, meningite e
inflamação do encéfalo e das meninges (meningocefalite), ameaça chegar
às grandes cidades brasileiras. Encontrado em amplas regiões das
Américas do Sul e Central e no Caribe, o oropouche — um arbovírus (vírus
transmitido por um mosquito, como o zika e o da febre amarela), se
adaptou ao meio urbano e tem se aproximado cada vez mais próximo dos
grandes centros.
De acordo com a Agência Fapesp, o alerta foi
feito pelo professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP-USP) Luiz Tadeu Moraes Figueiredo,
durante palestra sobre vírus emergentes na 69ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Com o tema
“Inovação – Diversidade – Transformações”, o evento, que acontece até o
próximo sábado (22/07) no campus Pampulha da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), reúne pesquisadores do Brasil e do exterior, além
de gestores do sistema nacional de ciência e tecnologia.
— O
oropouche é um vírus que potencialmente pode emergir a qualquer momento e
causar um sério problema de saúde pública no Brasil — disse Figueiredo,
durante o evento.
De acordo com o pesquisador, que coordena um
projeto apoiado pela Fapesp, há mais de 500 mil casos relatados no país
nas últimas décadas de febre do oropouche, como é conhecida a doença
causada pelo vírus.
Esse número, alerta o pesquisador, tende a subir, uma vez que o vírus, transmitido pelo mosquito Culicoides paraenses
— conhecido popularmente como maruim ou borrachudo —, antes restrito
aos pequenos vilarejos da Amazônia, tem se alastrado e chegado às
grandes cidades do país.
— O oropouche é um vírus que tem um grande potencial de emergência, porque o mosquito Culicoides paraensis
está distribuído por todo o continente americano. O vírus pode sair da
região amazônica e do planalto central e chegar às regiões mais povoadas
do Brasil — disse Figueiredo à Agência Fapesp.
Aumento de casos
O
número de casos de febre oropouche também tem se tornado mais frequente
em áreas urbanas não só no Brasil, mas também no Peru e em países do
Caribe.
No Brasil, o vírus já foi isolado em aves no Rio Grande do
Sul, em um macaco sagui em Minas Gerais e foi detectada a presença de
anticorpos neutralizantes (que se ligam ao vírus e sinalizam ao sistema
imune que destrua aquele corpo estranho e o impeçam de completar a
infecção com sucesso) em primatas em Goiânia.
— Fizemos
recentemente, em parceria com o professor Eurico Arruda (do Departamento
de Biologia Celular da FMRP-USP) o diagnóstico de um paciente de
Ilhéus, na Bahia, com febre do oropouche. Isso mostra que o vírus tem
circulado pelo país — avaliou.
Os pesquisadores da instituição já
haviam diagnosticado, em 2002, 128 pessoas infectadas pelo vírus
oropouche em Manaus. Os pacientes apresentavam os sintomas típicos da
infecção, como febre aguda, dores articulares, de cabeça e atrás dos
olhos. Três deles desenvolveram infecção no sistema nervoso central.
— O vírus foi encontrado no líquor cefalorraquidiano desses pacientes — disse Figueiredo.
O
que chamou a atenção dos pesquisadores é que um desses três pacientes
tinha neurocisticercose, uma infecção do sistema nervoso central pela
larva da tênia do porco (Taenia solium), e outro tinha Aids.
—
Isso mostra que algumas doenças de base ou imunodepressão (deficiência
do sistema imune observada durante doenças, como o câncer e a Aids)
podem facilitar que o vírus chegue ao sistema nervoso central — apontou o
pesquisador.
Os 128 pacientes infectados com oropouche em Manaus
tinham diagnóstico clínico de dengue, uma vez que os sintomas da doença
são parecidos com os da febre do oropouche. Por essa razão, os
pesquisadores da FMRP-USP e de outras instituições, como a Fiocruz,
começaram a chamar a atenção para o fato de que o vírus oropouche pode
ser a causa de muitos casos suspeitos de dengue no Brasil.
(FONTE: EXTRA)
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Postado por Raimundo Lima
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