segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Começa o cálculo para uma eleição sem Lula

A Lei da Ficha Limpa é clara: após condenação por órgão judicial colegiado, qualquer brasileiro se torna inelegível por oito anos. Como nenhum dos recursos ao TRF-4 poderá mudar a sentença, o ex-presidente Lula já é inelegível. É sobre este novo cenário eleitoral que os analistas mergulharam, durante o fim de semana. “A novidade é que a esquerda passou a compartilhar o principal problema da direita”, escreve Alon Feuerwerker. “A dificuldade de convergir rapidamente para um nome e ganhar massa crítica antes do outro campo.” Ganhar volume de votos o mais cedo possível na corrida passa a ser a meta de todos os candidatos. E aí é hora de demonstrar habilidade política.
Marina Silva foi a primeira. Está em campo para marcar posição. “Os partidos tradicionais de direita e de esquerda não defendem a Lava Jato, e eu defendo a Lava Jato. Defendem o foro privilegiado, e eu sou contra. Tentaram aprovar a anistia para o caixa dois, e eu fui contra.” (Globo)
Mas Lula é mesmo inelegível? O trabalho imediato do PT é impedir esta percepção e, a partir daí, uma debandada. Em entrevista à Folha, o senador Lindbergh Farias foi enfático. “No direito eleitoral, você registra as candidaturas, depois tem prazo para impugnação. Vamos registrar Lula no dia 15 de agosto”, ele diz. “Sabe quando o TSE pode impugnar? Dia 12 de setembro. Até lá é campanha na TV.” E vai além: “Se prenderem Lula, ele vai ser candidato preso.”
Amanhã sairá uma pesquisa do Ipsos e, na quarta, do Datafolha. “Se Lula mantiver ou ampliar sua vantagem”, sugere Ricardo Miranda, “somará argumentos para aqueles que defendem que sua candidatura é irreversível e pretendem ir empurrando-na.”
Segundo Ascânio Seleme, o PT começará a propor uma nova constituinte. (Globo)

Elio Gaspari: “Desde que entrou na política, Lula mostrou-se um hábil manipulador do medo que o andar de cima tem da rua. Ele põe sua gente na praça, estimula bandeiras radicais e se oferece como pacificador. Quando os radicais passam a incomodá-lo, afasta-se deles. Essa mágica funcionou durante mais de 30 anos, mas mostrou sinais de esgotamento a partir de 2015.” (Folha ou Globo)
Vladimir Safatle: “Não é difícil perceber que os casos de corrupção condenados giram todos em torno, basicamente, de Lula, de seus operadores e de seus apoiadores. A ala do MDB na cadeia (Sérgio Cabral e cia) é uma ala majoritariamente lulista. Um país onde Lula é condenado e Temer é presidente e Aécio Neves senador é algo da ordem do escárnio.” (Folha)
Otávio Frias Filho: “Ninguém dotado de discernimento consegue acreditar que o colossal esquema de corrupção instalado na Petrobras, no qual aparecem incriminados os principais de seus auxiliares e do qual ele próprio, Lula, era o beneficiário em última instância, pudesse estar alheio a seu controle e conhecimento. Por outro lado, há algo de modesto nos bens transferidos a Lula. Os juízes decidiram conforme seu entendimento das leis, mas isso não afasta a percepção de que, comparado aos magnatas da corrupção descobertos, o ex-presidente foi comedido. E faz sentido um aspecto da paranoia petista em torno do crepúsculo do líder: a exasperação com a demora nos processos contra outros figurões políticos, do PMDB e do PSDB, beneficiados pela lentidão do foro especial.” (Folha)
Eliane Cantanhêde: “Quanto mais Lula e o PT ameaçarem juízes e desembargadores, mais eles se unirão. E a sociedade, espectadora, não vai pegar em armas, incendiar nem morrer por um condenado por corrupção, seja ele quem for. Em nome de uma guerra pró-Lula e contra a Justiça, o PT pode estar jogando fora de vez a sua história, a opinião pública e os fundamentais apoios que colheu para eleger Lula em 2002 e torná-lo o presidente mais popular após a redemocratização.” (Estadão)

(Fonte: Canal Meio)
Postado por Raimundo Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário