Lula vai
depor a Sérgio Moro Pedro Ladeira/24.04.2017/Folhapress
O clima é de Fla-Flu, o maior clássico das
arquibancadas do Rio de Janeiro. Mas o que promete ser o principal
acontecimento desta quarta-feira (10) em nada tem a ver com futebol ou qualquer
outro esporte.
Trata-se do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato na
primeira instância. O interrogatório está marcado para às 14h em Curitiba (PR).
No encontro, o primeiro em que os dois ficarão
frente a frente, Lula dará explicações a Moro sobre o suposto recebimento de
propina da empreiteira OAS, por meio da compra de um tríplex no Guarujá, litoral
de São Paulo.
O armazenamento de bens do ex-presidente pela OAS,
entre 2011 e 2016, também faz parte deste processo.
Do lado de fora, militantes do PT e grupos
favoráveis ao ex-presidente esperam reunir 10 mil militantes para apoiar o
ex-presidente. Entre eles, Dilma Rousseff, que deve desembarcar em Curitiba às
10h30 vinda de Porto Alegre (RS).
Já existe um grande acampamento
montado na região central de Curitiba, com cerca de 5.000 pessoas. Organizado, o local
tem uma grande cozinha, chuveiros dentro de contêineres e banheiros químicos,
mas disputa espaço com composições de trem.
Por outro outro lado, os críticos de Lula e
apoiadores de Moro também deverão se manifestar na capital paranaense, embora
em menor número.
De um lado ou de outro, porém, será difícil se
aproximar da sede da Justiça Federal em Curitiba. Isso porque a PM (Polícia
Militar) isolou a área e só vai permitir que moradores e jornalistas acessem o
local.
Tocaia
Um grupo de 36 membros do Sindicato dos
Metalúrgicos de Recife embarcou com a reportagem do R7 no voo de São
Paulo à Curitiba. Esses membros saíram da capital pernambucana por volta das
15h em um voo até São Paulo e, de lá, embarcaram rumo ao Paraná.
Eles fazem parte de um grupo maior, de cerca de 500
pessoas, que deixaram a capital pernambucana rumo a Curitiba para protestar
contra as acusações que recaem contra Lula.
Com faixas enroladas e bonés da CUT (Central Única
dos Trabalhadores), o grupo aguardava um transporte para um hotel da cidade
quando foi abordada pela reportagem. Um dos integrantes, que não quis se
identificar, afirmou que inicialmente a ideia é seguir a programação pacífica
desta quarta-feira.
Questionado, porém, se acreditava na possibilidade
de o juiz federal mandar prender Lula, foi enfático: "Isso seria uma
tocaia, uma emboscada. Se mandar prender, vai faltar gasolina nos postos de
Curitiba, porque nós vamos queimar tudo".
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Adiamento
Previsto inicialmente para acontecer no dia 3, o
encontro entre os dois nomes que, no momento, polarizam a opinião pública, está
marcado para as 14h desta quarta-feira (10) no TRF-4 (Tribunal Regional Federal
da 4ª Região), em Curitiba. A defesa de Lula tentou adiar o depoimento, mas o pedido foi
negado pelo juiz Moro.
O depoimento está cercado de polêmicas e
expectativas. Primeiro, Moro pediu, em vídeo no Facebook, para que os apoiadores da Lava
Jato não fossem até a porta do TRF-4. Houve ainda, a pedido da prefeitura de Curitiba,
a proibição de acampamentos na cidade — o que não impediu a montagem
de barracas em um terreno da União próximo à rodoferroviária da cidade. A
Justiça, no entanto, autorizou a instalação
de uma cerca entre o local onde os manifestantes acamparam e o pátio de
manobras dos trens.
O acesso aos arredores do TRF-4 será exclusivo para
moradores previamente
cadastrados,
jornalistas e pessoas credenciadas. Além disso, o atendimento ao público
na sede da Justiça Federal foi suspenso nesta quarta.
Na noite de terça-feira (10), a defesa de Lula
ainda recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo o adiamento do
depoimento e o impedimento de Moro.
Gravação
Os advogados de Lula pediram uma mudança na forma
de gravação do depoimento. Eles queriam que a câmera não ficasse focada no
ex-presidente — como é o normal nos depoimentos — e mostrasse também que
o interrogasse. A defesa solicitou ainda fazer uma gravação própria do
depoimento. Mas ambas as
solicitações foram negadas por Moro.
"A câmara é focada no depoente, acusado ou
testemunha, porque se trata do elemento probatório relevante e que será
avaliado pelos julgadores das várias instâncias. [...] Não há qualquer intenção
de prejudicar o acusado ou sugerir a sua culpa com esse foco, tanto assim que o
depoimento das testemunhas, que não sofrem qualquer acusação, é registrado da
mesma forma", disse o juiz em despacho.
Lula já falou ao juiz uma vez, em 30 de novembro.
Na ocasião, que aconteceu por videoconferência, o clima entre os dois foi
amistoso e cordial.
Sem disputa
Na segunda-feira (7), Moro disse que é o
interrogatório de Lula é um ato natural dentro do processo penal e minimizou a
expectativa de rivalidade entre os dois. "Não é um confronto. O processo
não é uma guerra, o processo não é uma batalha, o processo não é uma arena".
— Eu fico um pouco preocupado com toda essa
expectativa em cima desse ato. É algo assim absolutamente normal dentro do
processo. Por causa da Lava Jato, parece que eu sou juiz há três anos. Mas
estou na carreira desde 1996, então já peguei vários processos, talvez não tão
rumorosos, mas vários processos difíceis e igualmente interessantes.
Postado. Por Raimundo via portal R7 na integra.
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